29 de setembro de 2009

Solificati

Uma pessoa Desperta usa uma coroa. Como a auréola de um santo, esse diadema brilhante demonstra a ajuda de Deus. Para conquistar essa coroa, um magus precisa olhar através das aparências falsas, dominar a Arte da Transformação e refinar-se do barro ao ouro.

A alquimia, a Arte da Transformação, lida com o apuramento de materiais básicos para um estado superior. Mortais "orgulhosos" tentam transformar chumbo em ouro, mas o alquimista verdadeiro quer transformar a si mesmo. Embora essa missão envolva disciplinas materiais, esses refinamentos são como os primeiros passos no Caminho Real. Os alquimistas Solificati têm seu nome em razão da coroa do domínio. Esses "Coroados" demonstram suas realizações com orgulho — com orgulho demais para algumas pessoas — mas eles têm esses direito. O caminho para suas fileiras é longo e tortuoso, cercado por dragões de cobiça, ignorância e instabilidade material, A chama do gênio pode tornar-se uma tocha (ou uma explosão) muito facilmente.


Essa Trilha começa no Cálice de Isis, com as Artes de Hatshepsut, que cobria suas bochechas com ouro que fazia a partir de areia. Brilhando como o sol, ela ensinou a seus melhores alunos como refinar a poeira resplandecente. Ela dizia que, assim como a areia humilde transforma-se em ouro puro, o pupilo mais inexperiente poderia, através da sabedoria, tornar-se um mágico — e mais. Para proteger seus segredos, ela os ocultou em hieroglifos misteriosos — figuras tão simbólicas que mesmo os mestres escribas não conseguiam decifrá-los. A rainha repassou os segredos para 10 de seus Portadores do Cálice mais confiáveis, pedindo aos magí que se aperfeiçoassem como a areia.

Naturalmente, esses segredos se disseminaram para lábios menos confiáveis. O conhecimento de Hatshepsut logo misturou- se às descobertas de mágicos taoístas, magos Herméticos, rabinos judeus, oráculos pagãos e místicos cristãos, criando uma Arte estranha capaz de condenar ou divinizar com igual sucesso. Para aqueles que procuraram a alquimia com intenções gananciosas, a Maldição do Ouro transformou sua fortuna em ruínas; para aqueles que buscavam o Caminho Real do auto-aperfeiçoamento, a alquimia concedia riquezas, Iluminação e imortalidade.

Ao longo do caminho, os alquimistas refinaram curas maravilhosas, minérios magníficos e uma linguagem de símbolos tão rebuscada e complexa que mesmo seus mestres compreendiam-na apenas parcialmente. Um grupo desses mestres, a Guilda do Leão Branco, reuniu diversas seitas de Altos Artesãos; essa aliança auspiciosa da "Guilda Dourada" levou os Maçônicos de um conjunto de casas a uma Ordem de grande escala. Pouco depois, o duque Leão Branco Luis de Varre uniu sua guilda a diversas outras escolas alquímicas. Dando ao resultado o título de "os Coroados", ele ajudou a estabelecer a Ordem da Razão.

Isso não iria durar muito tempo. Os alquimistas, acostumados a auto-suficiência, rebelaram-se contra a "interferência" das outras convenções. Os Solificati deixaram a Ordem logo depois de sua fundação e rapidamente desintegraram-se em facções conflitantes. O resultado foi uma série de guerras destrutivas — guerras que terminaram quando o Diplomata Luis liderou os Coroados de volta ao Caminho Real. Agora uma Tradição, os Solificati mantêm sua independência enquanto trabalham visando um objetivo maior.

Para estranhos, um Solificato parece arrogante e introspectivo. Sua pesquisa parece ser mais importante do que as graças sociais, e muitas vezes ele fala através de charadas e procura por significados ocultos. Se for minimamente competente, esse magus cerca-se de bens mundanos — com o que ele parece não se preocupar. No entanto, por trás dessa fachada, o alquimista é um vidente que luta contra sua própria cegueira. Para ele, o mundo é uma trama de símbolos, atormentadora em sua complexidade, mas simples se souber onde e como procurar. Seus costumes enigmáticos são um desafio para os outros: ver além do óbvio. Ultrapassar seus limites. Quebrar o ovo da serpente e cortar sozinho os dentes de Ouroboros. Apenas então você poderá chamar-se "magus".

Filosofia: A mágika é um símbolo do autorefinamento. Embora ela conceda grandes poderes, essas jóias não são nada comparadas ao processo espiritual. Tudo na Criação é parte desse processo (as estrelas, os minerais, os espíritos, os animais) e reflexo da verdade cósmica; todo objeto tem um estado superior. O mundo é orgânico, coberto de infâmia que, quando refinada, revela a Divindade. Esse refino representa o maior dos desafios; ele exige sabedoria, educação, intuição e um equilíbrio entre os elementos interiores e exteriores.
A perfeição de uma pessoa leva todos à perfeição. As coisas materiais são vazias no final das contas. Uma pessoa precisa ser generosa como o poeta, honrada como a chama e valente como o leão. A Pedra Filosofal verdadeira não é nem mesmo uma pedra — é o espírito que vive para sempre.

Estilo e Ferramentas: Ao contrário dos Herméticos com os quais se assemelham, a maioria dos Solificati é calma e paciente. Em laboratórios repletos de livros, queimadores, tabelas astrológicas e produtos químicos estranhos, eles transformam a matéria mundana em objetos maravilhosos. Chumbo em ouro é apenas o começo. Suas poções, pós, Metais Verdadeiros e chamas estranhas são menos intimidadores que as tempestades incontroláveis de seus companheiros Herméticos, mas se usados com sabedoria, podem ser igualmente eficazes. Tratados com descaso, levam a catástrofes.
Entretanto, esses brinquedos são apenas uma enganação; a mágika verdadeira aparece na consciência, nas percepções e faculdades expandidas que um bom alquimista alcança. Seus sentidos, mente e resistência alcançam níveis sobre-humanos; ele é capaz de ver o passado e o futuro, curar-se, até mesmo ler pensamentos e emoções. O magus torna-se seu próprio foco; desde que possa concentrar-se em suas experiências, seus sentidos se aguçam. Alguns Coroados chegam a tornar-se um rebi — hermafroditas que misturam elementos masculinos e femininos em um todo perfeito. O emissário escolhido a dedo pela Tradição para a Primeira Cabala é um desses rebis, formados a partir da união de dois magi.

Organização: O diplomata Luis evita os erros do passado. De modo geral seus Solificati ficam livres para cuidar de seus próprios projetos. Nessa época um alquimista é julgado por suas realizações e conhecimento, não por seu título em alguma hierarquia desprezível. O aprendizado é essencial, mas após a graduação todo Coroado é igual — desde que possa demonstrar seu valor. Muitas vezes deixa-se que os magi resolvam suas disputas (preferencialmente através de certames, não assassinatos). Por mais escandaloso que seja, esta Tradição reverencia a igualdade entre homens e mulheres. Para eles a compreensão é mais importante que o decoro.

Primus: Diplomata Luis de Estes.

Iniciação: Convencer um bom alquimista a treiná-lo já é difícil; os testes, tarefas e lições infindáveis que vêm junto com o treinamento espantam todos exceto os mais dedicados. Muitos aprendizados duram de cinco a dez anos; nesse período, o "ovo" (aprendiz) aprende os símbolos mais comuns, mas precisa descobrir o resto sozinho. Poucos textos alquímicos apresentam escritas — figuras e algumas referências codificadas são tudo que um ovo precisa aprender. Se ele Despertar, pode se integrar a uma sociedade formal — ou não. A maioria dos ovos não sabe a que se filiou até que tenha sido escolhida para filiar-se.

Daemon: Criaturas mágicas, signos do zodíaco e animais conduzem uma dança jovial ao longo do Caminho Real.

Afinidades: Matéria e Terra.

Seguidores: Patronos ricos, artistas, aspirantes a alquimistas, pessoas auxiliadas.

Conceitos: Estranho misterioso, boticário, monge, astrólogo, pintor, nobre, irresponsável.


Estereótipos

Magi do Conselho: Ah, os Leões de Hermes são companheiros dignos, e os Ventos do Deserto brilham como ouro, mas o resto desses vaidosos são como brasas na gordura. Talvez os Etíopes tenham segredos para compartilhar...

Dedaleanos: Suas torres de pedra pesam sobre os corações das pessoas.

Infernalistas: Sangue de dragão é vinho para esse pessoal. Que isso apodreça suas entranhas carcomidas!

Discrepantes: Quem sou eu para condenar as fagulhas por fugirem do fogo?

Desauridos: Uma linha rompida produz tramas danificadas.



Ergue-te acima do pó se pretendes transformá-lo em ouro.



Referência bibliográfica
BRUCATO, Phil. Mago: a cruzada dos feiticeiros. São Paulo. Devir. 2002.

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